terça-feira, 2 de julho de 2013

PEC 99/11 propõe teocracia e elimina estado laico

Fundamentalistas evangélicos comemoram aprovação da PEC 99/11, proposta pela FPE, do mesmo autor da Pec da Cura Gay. O interessante é que muitos fiéis de cultos afrobrasileiros ainda defendem alguns candidatos fundamentalistas que, em suas costas se unem para atacá-los no futuro! Acorda povo de santo!

Lamentavelmente, o jogo político do poder, o tal do "toma lá da cá", nos prega mais uma peça e ameaça a laicidade do Estado Brasileiro: a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ) aprovou em 27/03/2013, a PEC 99/11, que confere às organizaçoes religiosas poderes para declarar "Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIN)" e "Ações Declaratórias de Inconstitucionalidade (ADECON)" contra leis e decisões judiciais, inclusive junto ao STF, quando acharem que contrariam os interesses das organizações religiosas. Com isso, se aprovada e sancionada sem cortes, a PEC não só confere maior poder aos religiosos, mas fere de morte a laicidade do Estado e incentiva a criação de um Estado Teocrático, que é, afinal, o que os fundamentalistas evangélicos, principalmente.
Como se não bastasse a nomeação do pastor-deputado Marco Feliciano para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias; e a concessão de passaportes diplomáticos para Edir Macedo, R.R, Soares, pastor Samuel Cássio Ferreira e Valdemiro Santiago, todos com suas respectivas esposas; além das seções de culto gospel, dentro da Câmara e do Senado; a proposta de construção do Parque Gospel (Acre) com o dinheiro público e o projeto do Deputado Jair Bolsonaro, para a obrigatoriedade de um crucifixo nas paredes das casas legislativas e de bíblias nas mesas diretoras da Câmara; além do projeto "Papai do Céu na Escola", do deputado-pastor Marco Feliciano;as obstruções ao PCL/22, agora mais esta articulação sorrateira da bancada evangélica que quer tomar o poder no país de forma fundamentalista. Todas essas propostas esdrúxulas são defendidas pela "Bancada Evangélica", à qual pertencem 78 deputados e 3 senadores, a 4ª maior bancada do Congresso.

Mas em que se constitui o PL 99/11?

Na prática, esse projeto, proposto em 2011, poderia ser resumido na sua ementa: "Acrescenta ao artigo 103, da Constituição Federal, o inciso X, que dispõe sobre a capacidade postulatória das associações religiosas para propor ações de inconstitucionalidade e ação declaratória de constitucionalidade de leis ou atos normativos, perante a Constituição Federal". Com isso, não só a CNBB, mas também as CGADB (Convenção Geral das Assembleias de Deus do Brasil), o "Superior Concílio das Igrejas Presbiterianas do Brasil", a "Convenção Batista Nacional" ou qualquer outro grupo de igrejas organizadas, poderiam questionar leis contrárias aos seus interesses (que privilégio!). Assim, questões como legalização do aborto, da união homoafetiva ou qualquer outra que não passasse no crivo das igrejas, também dificilmente passaria no Congresso. Em contrapartida, questões que resguardassem direitos de ateus e minorias poderiam ser prejudicadas. Vejam o que diz o caput do artigo 103 da nossa CF:
"Art 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade:" (seguem-se nove tipos de instituições contempladas).
Eles querem ser a décima. É o retrocesso.

Quem é a "Bancada Evangélica" 
e João Campos, o autor do projeto?
Sobre essa figurinha carimbada, é nada mais, nada menos do que o presidente da Frente Parlamentar Evangélica (FPE), integrante da famosa "Bancada Evangélica", com grande poder de fogo, por ser a 4ª maior bancada, dentre as 17 bancadas suprapartidárias existentes no Congresso Nacional. Estão lá para fazer patrulhamento contra toda e qualquer lei que contrarie os "princípios religiosos" por eles defendidos. E normalmente conseguem, por meio da obstrução e/ou barganha de votos, já que fazem parte da base aliada do governo. Será que expurgar essa turma da política não melhoraria um pouquinho mais as coisas? Pesquisa do site "Transparênncia Brasil" revela que esta é a pior bancada do Congresso e também a mais ausente, inexpressiva e processada. Quase todos os seus deputados respondem a processos e 87% deles estão entre os mais inexpressivos do DIAP e só apresentaram um projeto de valor de expressão, com benefícios para o país. Por que se julgam tão especiais e gozam de tantos privilégios? Será pelo temor de enfrentá-los, em função do grande número de votos de eleitores que representam? Provavelmente sim.
O que se pode fazer?
A questão já foi colocada. Cabe agora à nação, agir. E só existem dois meios: a lei (???) e o protesto. Pela lei, e arguindo-se o direito de igualdade, poder-se-ia argumentar que o privilégio é incabível porque favorece uma categoria especial de pessoas, em detrimento de outras. Por analogia e direito de igualdade, as associações que representam gays, os afrodescendentes, os ateus e agnósticos, por exemplo, deveriam ter os mesmos privilégios legais, já que a situação é a mesma: são segmentos da sociedade organizados em forma de associações. Vale ressaltar, que estes sim, são minorias discriminadas; os religiosos, não. Pelo contrário, eles são maiorias. Que país bagunçado é este, sem critérios, sem justiça, sem direito de igualdade? Se o país é laico, por que os irreligiosos não têm os mesmos direitos e não gozam de qualquer proteção legal?
Quanto ao protesto, além de representações legais e manifestações populares de repúdio, poderíamos iniciar, por exemplo, assinando uma petição pública formulada pela Liga Humanista Secular e que se encontra disponível no site Change. Org. Os que desejarem assinar (e recomendamos), devem clicar aqui.
É isso. O resto é com vocês.