São Paulo – Um “rolezinho” contra o racismo, que reuniu ontem, sábado (18/01), cerca de 300 jovens, na sua maioria negros e da periferia, em protesto às liminares concedidas pela Justiça autorizando a proibição desse tipo de manifestação nos shoppings, provocou o fechamento de um dos principais centros de consumo de S. Paulo, o Shopping JK Iguatemi, no Itaim Bibi.
A direção do shopping, um centro de compras voltado para o mercado de luxo, bloqueou as entradas para pedestres por volta das 14h, pouco antes da chegada dos manifestantes. No sábado passado, o mesmo shopping impediu um "rolezinho" com apoio de uma liminar da Justiça.
Encerrada a manifestação, o advogado Elizeu Soares (foto) foi até o 96º Distrito Policial, na Avenida Luiz Carlos Berrini, fazer o registro de uma queixa por racismo contra o shopping. “O que nós queríamos era caracterizar a prática de racismo e constrangimento ilegal que as pessoas sofreram por serem negras. A manifestação já havia sido encerrada, tentamos individualmente entrar no shopping e fomos barrados”, disse Soares, que é assessor da deputada estadual Leci Brandão, do PC do B, e vice-presidente da Comissão do Negro e Assuntos Anti-discriminatórios da OAB/SP.
O artigo 5º da Lei 7.716/89 (a Lei antirracismo) pune com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, quem "recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador".
Racismo explícito
Segundo ele, ficou caracterizado o impedimento a entrada individual. “Nós encerramos a manifestação e quando algumas pessoas – 90% das quais negras - tentaram entrar e foram barradas, o que configura o crime de racismo previsto na Lei 7.716/89”, acrescentou.
A o “rolezinho” antirracismo foi organizado pela União de Negros de Educação Popular e Classe Trabalhadora (UNEAFRO), entidade dissidente da Educafro, do Frei David Raimundo dos Santos.
A manifestação começou no Parque do Povo, próximo ao shopping, e as 13h40 começou a caminhada em direção ao JK Iguatemi, que fica na Avenida Presidente Juscelino Kubitscheck. Uma faixa em inglês dizia: “No país da Copa do Mundo, shoppings racistas proíbem a entrada de pessoas pretas e pobres"
Ativistas da Coordenação Nacional de Entidades Negras (CONEN) e da União de Negros pela Igualdade (UNEGRO), entidades, respectivamente, ligadas ao PT e ao PC do B, engrossaram a manifestação. Também ativistas do Círculo Palmarino, que reúne os negros do PSOL, estiveram presentes e puxaram palavras de ordem.
"É o racismo do judiciário que não é novidade para nós. Isso é histórico. Cortaram os bailes funks, proibiram os pancadões e empurraram a periferia para a barbárie. Na Zona Leste tem que opção de lazer? Tem só shopping, Parque do Carmo e o Sesc", completou João de Oliveira, diretor da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen).
Na porta do shopping from Luiz Carlos Azenha on Vimeo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário